Antes de chegar à
Zâmbia pensava que iria encontrar imensos animais aqui: macacos, elefantes,
zebras, leões, hienas ... enfim, todos aqueles que aparecem no filme do Rei
Leão. E porque não? Tinha visto na
internet imensas publicidades de safaris na Zâmbia com imensos animais. Para
além do mais, o meu projecto seria no meio do mato (“bush”, como aqui chamam),
o que aumentava as possibilidades de contacto com vida selvagem.
Após mais de um
mês aqui, posso dizer que tenho tido imenso contacto com vida selvagem: vacas,
cabras e galinhas. Mas se pensam que estes animais não são nada de especial,
estão muito enganados.
As vacas têm um
ar pouco amistoso. Não sei se sou a única, mas sempre que penso em vacas,
vem-me a imagem de uma vaquinha preta e branca a ruminar num verde prado. Aqui
não há verdes prados, as vacas têm cores aleatórias, chifres enormes e andam a
passear por todo o lado. A minha relação
com as vacas da Zâmbia está em processo de evolução. Não lhes acho muita piada.
As vacas são muito utilizadas aqui para puxar carroças,
um meio de transporte vital para os moradores da área rural onde vivo. Estão
por todo o lado.
No outro dia, ia
sozinha e tranquila a andar, quando um local se junta a mim. Tentei falar com
ele em inglês, mas ele só falava Lenje (a língua local). Ele estava muito feliz
por estar a andar ao lado de um Musungo (o que eles chamam aqui aos brancos) e
eu fiquei feliz por ele.
De repente, o
senhor começa a dizer palavras na língua local, mas eu não percebi nada. Olhei
para trás e vi duas vacas demasiado perto. Quase que conseguia tocar nos
chifres delas se quisesse. Não gostei.
Um dos meus
colegas voluntários, muito indignado com o meu medo irracional, resolveu
obrigar-me a andar pelo meio das vacas ao pé de uma quinta por onde passámos
ontem. A relação é recíproca. Elas têm medo de mim.
Com as cabras, a
história é muito diferente. As cabrinhas estão por todo o lado, mas isso não me
incomoda nada.
Tudo começou na
primeira semana que passamos aqui em Chibombo. As cabras estavam na hora do
pasto e, quando se aproximaram da nossa casa, um dos nossos colegas que já está
cá há mais tempo avisou-nos que as cabras comem a roupa que deixamos no
estendal.
Mal vi as cabras
a aproximarem-se da nossa roupa, comecei a andar em direcção às mesmas e a
fazer muito barulho. As cabras entraram em pânico. Desde aí, tenho o hábito
cruel de assustar cabras. Tenho que parar com isso.
Quanto às
galinhas, ninguém parece muito preocupado. Passeiam por todo o lado e, quando
estão prestes a ser mortas, são amarradas.
O que mais gosto
nas galinhas é o facto destas aves viajarem nos mini buses, como se de bagagem
se tratassem. No entanto, não parecem muito incomodadas. Ás vezes ainda largam
uma pena ou outra, mas acho que no fundo se sentem especiais por terem a honra
de viajar num mini bus.
Após mais de um
mês aqui, estes animais fazem parte do meu dia-a-dia e mesmo que não goste de
alguns deles, acho que a minha vida rural não seria a mesma sem eles.
Ontem, o nosso
líder de projecto avisou-nos que um leão anda fugido de um jardim zoológico
aqui perto. Também acrescentou, com toda a calma, que o leão tem andado pelas
redondezas, movendo-se especialmente à noite (quando me costumo deslocar para a
sala dos computadores, a 10 minutos a pé da minha casa).
Não gosto desta
nova vida selvagem que se quer intrometer na minha vida rural. Espero que o
leão seja apanhado depressa. Não quero nada que as cabras, vacas e galinhas
sejam apanhadas pelo rei da selva.
Nota: Quando me
refiro às vacas, os bois/touros também estão incluídos. Refiro-me a vacas não
por preguiça, mas porque acho assustadora a hipótese de me cruzar com bois e
touros a cada 10 min nos caminhos para os sítios que visito diariamente.
Primeiro vou aceitar as vacas. Numa segunda fase, aceito que os bois/touros existem.