sábado, 5 de julho de 2014

Vacas, cabras, galinhas e o leão

Antes de chegar à Zâmbia pensava que iria encontrar imensos animais aqui: macacos, elefantes, zebras, leões, hienas ... enfim, todos aqueles que aparecem no filme do Rei Leão.  E porque não? Tinha visto na internet imensas publicidades de safaris na Zâmbia com imensos animais. Para além do mais, o meu projecto seria no meio do mato (“bush”, como aqui chamam), o que aumentava as possibilidades de contacto com vida selvagem.

Após mais de um mês aqui, posso dizer que tenho tido imenso contacto com vida selvagem: vacas, cabras e galinhas. Mas se pensam que estes animais não são nada de especial, estão muito enganados.
As vacas têm um ar pouco amistoso. Não sei se sou a única, mas sempre que penso em vacas, vem-me a imagem de uma vaquinha preta e branca a ruminar num verde prado. Aqui não há verdes prados, as vacas têm cores aleatórias, chifres enormes e andam a passear por todo o lado. A  minha relação com as vacas da Zâmbia está em processo de evolução. Não lhes acho muita piada.

As vacas  são muito utilizadas aqui para puxar carroças, um meio de transporte vital para os moradores da área rural onde vivo. Estão por todo o lado.



No outro dia, ia sozinha e tranquila a andar, quando um local se junta a mim. Tentei falar com ele em inglês, mas ele só falava Lenje (a língua local). Ele estava muito feliz por estar a andar ao lado de um Musungo (o que eles chamam aqui aos brancos) e eu fiquei feliz por ele.

De repente, o senhor começa a dizer palavras na língua local, mas eu não percebi nada. Olhei para trás e vi duas vacas demasiado perto. Quase que conseguia tocar nos chifres delas se quisesse. Não gostei.

Um dos meus colegas voluntários, muito indignado com o meu medo irracional, resolveu obrigar-me a andar pelo meio das vacas ao pé de uma quinta por onde passámos ontem. A relação é recíproca. Elas têm medo de mim.



Com as cabras, a história é muito diferente. As cabrinhas estão por todo o lado, mas isso não me incomoda nada.

Tudo começou na primeira semana que passamos aqui em Chibombo. As cabras estavam na hora do pasto e, quando se aproximaram da nossa casa, um dos nossos colegas que já está cá há mais tempo avisou-nos que as cabras comem a roupa que deixamos no estendal.

Mal vi as cabras a aproximarem-se da nossa roupa, comecei a andar em direcção às mesmas e a fazer muito barulho. As cabras entraram em pânico. Desde aí, tenho o hábito cruel de assustar cabras. Tenho que parar com isso.



Quanto às galinhas, ninguém parece muito preocupado. Passeiam por todo o lado e, quando estão prestes a ser mortas, são amarradas.

O que mais gosto nas galinhas é o facto destas aves viajarem nos mini buses, como se de bagagem se tratassem. No entanto, não parecem muito incomodadas. Ás vezes ainda largam uma pena ou outra, mas acho que no fundo se sentem especiais por terem a honra de viajar num mini bus.
Após mais de um mês aqui, estes animais fazem parte do meu dia-a-dia e mesmo que não goste de alguns deles, acho que a minha vida rural não seria a mesma sem eles.

Ontem, o nosso líder de projecto avisou-nos que um leão anda fugido de um jardim zoológico aqui perto. Também acrescentou, com toda a calma, que o leão tem andado pelas redondezas, movendo-se especialmente à noite (quando me costumo deslocar para a sala dos computadores, a 10 minutos a pé da minha casa).

Não gosto desta nova vida selvagem que se quer intrometer na minha vida rural. Espero que o leão seja apanhado depressa. Não quero nada que as cabras, vacas e galinhas sejam apanhadas pelo rei da selva.


Nota: Quando me refiro às vacas, os bois/touros também estão incluídos. Refiro-me a vacas não por preguiça, mas porque acho assustadora a hipótese de me cruzar com bois e touros a cada 10 min nos caminhos para os sítios que visito diariamente. Primeiro vou aceitar as vacas. Numa segunda fase, aceito  que os bois/touros existem.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Buracos

A ideia deste blog surgiu num mini bus na Zâmbia ao som de música local, enquanto ia batendo com a minha cabeça no vidro da janela no dito veículo devido aos buracos da estrada. Apercebi-me que há momentos que têm que ser partilhados.

Apesar de ter um blog onde escrevo em inglês (http://marianavolunteer.blogspot.com), senti-me na necessidade partilhar experiências (diferentes) na minha língua materna. Uma medida necessária à minha sanidade mental, uma vez que só a uso nas minhas ideias, para falar com os amigos e família na internet e às vezes com as gatas e insectos que tenho em casa.

Pois bem, passo-me a apresentar. O meu nome é Mariana, tenho 21 anos e, após concluir a minha licenciatura em Línguas e Relações Empresarias, para grande surpresa de todos, resolvi que queria ser voluntária em África. Estive 6 meses em formação em Inglaterra e cheguei à Zâmbia há pouco mais de um mês.

O que eu mais gosto na Zâmbia são as pessoas. A cada momento pode acontecer qualquer coisa de surpreendente, como por exemplo no mini bus. Uma carrinha de 11 lugares que, surpreendentemente, tem a capacidade de transportar 14 pessoas, 4 galinhas e bagagens variadas (sendo que as maiores, como uma bicicleta ou um saco de milho, são transportadas no topo da carrinha, presas por uma fita preta de cabedal). O resultado foi que, durante grande parte da viagem, fiquei esmagada contra uma janela, ocasionalmente batendo com a cabeça no vidro da mesma e sentido o meu traseiro um tanto ou quanto quadrado.

Mas desenganem-se se pensam que só nos autocarros pequenos é que podem ter uma viagem cheia de aventura e suspense. A verdade é que antes de embracar no mini bus, tinha estado 4 horas num big bus, batendo constantemente com a cabeça no banco devido à condução acelarada e aos buracos existentes na estrada. O bom destas viagens é que a banda sonora dá nos vontade de dançar e, como nós já estamos a fazer movimentos involuntários por causa dos buracos na estrada, poupa-nos imenso trabalho.

Os motoristas são, na minha opinião, artistas. Tentam-se desviar dos buracos, mantendo quase sempre a velocidade a que estavam anteriormente e mesmo quando parece que um acidente vai acontecer, nada acontece. Impressionante. Gostaria (fora de brincadeiras) de aprender a conduzir com eles. Poderia ser que assim tivesse chance de ser aprovada no exame de condução, quem sabe.



Bem, por hoje é tudo. Até breve!