Vir para a Zâmbia, para mim, foi
muito mais do que vir para um país diferente. Foi uma reviravolta na
minha vida em todos os aspectos.
Chegada à Zâmbia, deparei-me com
situações que vão muito para além de ter que usar uma latrina ou
tomar banho de balde. Deparei-me com pessoas diferentes, mas no
fundo, iguais.
Cheguei à conclusão que andamos todos
um pouco confusos com o que se passa a nossa volta. Descoberta
curiosa. Às vezes pensava que era a única.
Quis tanto resistir a esta realidade,
que o ser humano é um ser confuso. Quis resistir a realidade da
miséria, da corrupção, da desigualdade, injustiça. do alcóol,
das drogas, das expectativas, desilusões e dos relacionamentos
falhados. Isto provocou um terramoto na minha cabeça. Fiquei zangada
e tentei a todo o custo juntar as peças que restavam do que havia
anteriormente. Sem sucesso.
Por mais que tentasse, não conseguia
reconstruir o a minha realidade pessoal anterior. Algo mudou em mim
que não volta atrás. Mas porquê tão confusa? Porquê tão
confusa? A resposta é simples: Medo.
Sim, medo, toda a gente tem medo.
Durante anos, tinha vergonha de admitir que tinha medo porque não
queria parecer fraca, medo de dizer que estava confusa para não
parecer uma pessoa “sem rumo” ou “perdida na vida”, medo de
desiludir a minha família. No fundo, medo de não ser amada.
Em vez de encarar o medo com uma coisa
natural, fui começando a sentir culpa e pondo o medo a um canto
fechado a sete chaves. Mas só que o medo começou a pairar no
terramoto de ideias e a provocar-me um desconforto que me queria
aprisionar.
Quando andava no 12º ano, fui a
algumas aulas de Psicologia. Lembro-me bem do professor dizer que o
maior medo do ser humano é não ser amado. Compreendi a teoria, mas
levei alguns anos a compreendê-lo na práctica.
Quer seja em Portugal, na Zâmbia ou na
China, milhões de pessoas sentem-se condicionadas pelo o que as
outras pessoas esperam delas, com medo de não ser aceites e, em
consequência, de não ser amadas. No fundo, estão condicionadas por
elas próprias, pelos julgamentos internos e pelo o medo de não
corresponder às expectativas.
Ao criar estas barreiras psicológicas
e ao tentar incansavelmente corresponder às expectativas que os
outros têm sobre nós, o ser humano afunda-se na confusão. Daí
deriva a depressão, abuso de alcóol, drogas e outros hábitos
negativos que acabam por castigar o nosso corpo e a nossa alma.
Para quê viver uma vida centrada em
corresponder às expectativas se isso nos faz mal? É como se nos
fechássemos numa cela e, apesar de termos as chaves nas mão,
preferíssemos ficar presos. Sentimo-nos que não conseguimos atingir
o que os outros esperam de nós. Sentimo-nos inferiores a todos
aqueles que parecem seguir uma vida bem sucedida, aos nossos olhos.
Mas será que devemos guiar a nossa vida pelos outros, vivendo
condicionados e rebaixados por nós próprios?
Agradeço por estar aqui, por esta
viagem me ter dado um pouco mais de honestidade.
Se calhar é tudo mais fácil do que
pensamos.